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28.2.10

Sonhos



Relendo “Os Livros da Magia” a novela em quadrinhos de Neil Gaiman, acabou esbarrando na definição apropriada para o momento que vivia. Na cena em questão quem fala é Titânia, a bela e perigosa Rainha das Fadas tentando explicar o inexplicável:

“Há apenas dois mundos — o seu mundo, que é o mundo real, e outros mundos, a fantasia. (...). O importante, é que eles estão lá. Esses mundos proporcionam uma alternativa. Proporcionam uma fuga. Proporcionam uma ameaça. Proporcionam sonhos e força. Proporcionam refúgio e dor (...). Eles não existem, então são tudo o que importa. Você entende?"

Titânia talvez entendesse a situação melhor que ela. Há alguns dias sonhava sempre com o mesmo homem, a situação inicial e o final eram sempre as mesmas, ela era um arquivo; um programa que existia para agradar aquele homem. Sempre ele.
Passava o dia inquieta sabendo que o sonho viria e o esperava, ansiosamente. A noite chegava deitava vestida apenas de perfume, desejo, cansaço e espera. O cansaço vencia e logo ela dormia. O sonho vinha.
Ela sorria na tela para ele, gostava do seu olhar indeciso e desejoso. Seus olhos eram grandes, tristes e magnéticos. Depois de alguns instantes, em que mexia nervosamente com o mouse, ele afinal clicava e ela saltava da tela.
Não era mais ela, era dele, sua amiga, sua escrava, sua amante, atendia todos os seus desejos. A cada sonho, ela ia cada vez mais rápida, caindo numa espiral vertiginosa, caindo em seus braços carinhosos e ávidos.
A voz dele era parte do encanto, a língua em sua pele a dominava, seus desejos a viciavam como uma droga potente.
— Oi vício.
Ele disse em seu ouvido, sem tocar. Não era preciso tocar, sua presença era o bastante e ela esperou por um longo tempo, ou pelo que pareceu um longo tempo, pelo seu pedido.
Ele nada disse apenas beijou. A língua, dando voltas em torno da dela, numa dança suave e interminável. Enquanto beijava, seus dedos apertavam meus seios, deslizavam pelas costas, afundavam-se no sexo.
Carinhosamente ele a conduziu até a cama, ela já estava liquefeita e pronta. O corpo inteiro aberto para ele, e ele entrou fundo e forte.
— Você me quer também? Ou só quer me agradar?
Ele sussurrava perto da sua orelha, ela não respondeu, sentia todo o peso dele comprimindo seu corpo; o vai e vem suave dentro dela, seu sexo pulsando como se o mordesse. Ele gemeu e esqueceu a pergunta.
— Fica comigo a noite toda?
Ela obedeceu. Era um sonho tão real. Ficou, ou pensou ter ficado.
— Isso. Agora põe os saltos altos e fica ali de costas pra mim.
Obedeceu.
Depois do silencioso abraço, ele beija seus seios, beija sua boca, morde seu pescoço e diz de modo firme em seu ouvido.
— Vai embora, logo não vou estar sozinho.
Ela se levanta. Começa a desaparecer.
— Espera.
Ela volta. Espera.
— Eu te chamo e você volta?
— Volto.
Ele a beija de novo, os olhos parecem tristes, mas o beijo é bom. Ela desliza os dedos pela testa dele, beija a boca, que tem um gosto cinzento e desaparece. Acorda sempre inquieta a espera pelo próximo sonho... Pela próxima vez em que ele abrirá o arquivo...

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