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26.9.10

Quase um segundo

                       É como diz a canção. Tem dias que “te odeio por quase um segundo”, um quase segundo em que evoco todos os males daquela criatura, recito mentalmente todos os seus defeitos. Quando a raiva cresce como uma onda de náusea e me abraça.
                        Então ligo o computador e vejo o maldito sorriso nas imagens que salvei e a raiva se esvai rápida como veio e penso de novo nela envolta nesse maldito carinho. Revejo as mensagens... O sorriso... Sempre ele! O jeito bom de ser e perco de novo a batalha.
                        Amo e ponto, não consigo evitar... Aos poucos vou transmutar esse sentimento em alguma outra coisa, pensar no sorriso sem pensar num beijo, pensar em ver essa mulher sem abraçar... Eu consigo... Uma hora qualquer eu consigo... Por hora vou tentar odiar por alguns segundos..... Desligo tudo e saio pra vida real. Engulo apressado o café, beijo minha mulher, rio com as crianças, depois ganho a rua.
                        A pressa, a confusão e a cacofonia da cidade quase a apagam completamente. O trânsito está lento o carro quase não anda na pista oposta o táxi emparelha comigo e eu vejo. Era ela tenho certeza, o mesmo olhar tristonho que olha sem ver.
                        O tráfego começa a fluir e eu procuro desesperadamente uma maneira de mudar de pista! Mesmo que eu achasse um retorno não daria tempo. Perdi de novo, só que agora no mundo real também.
                        Que diabos faz na minha cidade? Mais uma mentira? Eu a imaginando do outro lado do país e ela morando bem aqui?Merda! Agora vou ficar pensando nisso o dia todo. No saguão do prédio em que trabalho um garoto com cara de emo sorri. E eu penso que devo estar com uma aparência lastimável.
                        O trabalho me distrai. Lá pelo meio da manhã o quadradinho me avisa que ela está on line, nem tento falar, as respostas lacônicas e frias me irritam. Não poder tocar me irrita também. Brigamos por isso. Quero pele. Ela prefere falar das impossibilidades.
                        E agora acho que mente. Talvez nem seja casada. Talvez goste de me enlouquecer. Que diabos fazia aqui ? Desisto dos relatórios e saio. Mergulhar na sinfonia de caos me ajuda a pensar. Foi quando a vi descendo a rua apinhada e o mundo parou à minha volta.
                        Atravessei a rua, correndo como louco entre os carros. Passei meses imaginando esse encontro. Querendo ter essa mulher ao alcance das minhas mãos e agora ela está ali na outra calçada. Ela não me viu e seguia apressada. Cabelos presos, jeans e camiseta branca e como andava depressa! A multidão a envolveu e eu tive medo de estar delirando.
                        Comecei a correr, procurando no meio da multidão. Derrubei dois homens de terno e uma mulher no processo. Porra! Quantas mulheres de camiseta branca e cabelos castanhos passam por aqui!Parecia um mar de clones. Finalmente a vi e a alcancei na porta de um hotel. Segurei-a pelo braço de um modo um tanto bruto. Acho que tinha medo que ela evaporasse.
                         O que ta fazendo aqui?
                         Correndo atrás de você pra ter certeza que é real.
                        Ela riu e se desvencilhou do meu braço entrando no hotel.
                         Já tem? Agora me deixa ir, não temos nada pra falar.
                         Quem disse que quero falar? Você pode ficar muda.
                        Apressou o passo até o elevador, subimos em silêncio até o seu andar. Ela afastou-se até o canto tentando evitar meu toque. Pele é o nosso problema é o que nos falta.
                        Chegamos ao andar dela e eu a seguia, mudo e ansioso.
                        Olha não estou aqui por você, tenho um assunto pessoal pra resolver, se quisesse te ver teria te ligado, avisado que estaria na cidade.
                        Vou tomar isso como um elogio. Qual é teu quarto?
                        Eu mal respirava, estava eufórico. Ela andou até a porta do quarto, abriu-a devagar, parecendo buscar saídas e explicações. Já tinha me dado tantas em nossas conversas virtuais, que realmente não havia muito a dizer. Beijei-a e ela não fugiu.



2 comentários:

Márcia Maia disse...

Bom como um filme bom, Rosa.

Maria Júlia Pontes disse...

Gostei dessa trama moderna.
bjos Rosa.