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15.1.09

Lamúrias velhas de esquinas tortas


Lançam-se dias de morango. O sabor dança nas ruas seu creme de novas ações.

Aventuras virão sem trégua e as manchas do que foi sombra irá desbotar-se para depois, serem encobertas por tatuagens rendadas pelas mãos do acaso. Lá fora o tempo é dengoso, abanando seu leque de mistério.

Creio que cartas falarão de um desempate; das trocas. Trágicos desenlaces escorrem nos vídeos domésticos.

Notas de minha infância: Homens armados galopavam e silvavam suas balas uns nos outros acima de minha cabeça. Até eu mesma tive de andar por um segundo com aquela bruxa na cartucheira. Foi assim que fugi numa alta madrugada e peguei a estrada. (Deixei a cartucheira e as armas jogadas no quintal de casa e rumei pelo mundo afora para não usá-las.)

Imagem longínqua de adolescência: Tomei rumo sem perder-me. Tudo teria de ser calculado como os tiros futuros que não viriam daquela arma. Era até bonita a bruxa. Um revólver preto herdado de um ancestral; vivia pendurado a esperar a mão certa que acertasse o alvo. Uma tarde na infância, meu dedo havia puxado o gatilho e a bala quebrou a garrafa de refrigerante de dois litros.

“Logo a menina!” Falou meu pai satisfeito na hora do jantar. Minha mãe deu aquele velho sorriso submisso e deixou que a copeira servisse a janta.

Anos se passaram e meu irmão foi estudar medicina na cidade. Qual seria meu futuro ali? Comandar um exército de homens e escravizar outros? Pensei primeiro em seguir meu irmão e fazer um curso em outro lugar. Meu pai resolveu que se eu quisesse fazer curso fosse à universidade ali, em nossa cidade mesmo.

Passei uns dias pensando, subindo nas mangueiras. Do alto via a linha do horizonte e o mundo além das montanhas. Tomei coragem e saí de tarde num ônibus até a cidade vizinha. De lá pulei no vagão vazio de um trem, que me levou direto a cidade.

Despertei para mariolas e carrosséis bem longe daquelas apostas. Minha astúcia me permite pernoitar nas estradas do mundo e olhar a beleza das ondas, quais rodilhas, a espumar o mar.

Sigo em frente; longe da infância. As calçadas me carregam tais confeitos coloridos de ternura. O tarô anuncia bonança. Águas claras, brisa e sol de temperança. As armas que se enferrujem no leito seco da discórdia.


2 comentários:

Lau Siqueira disse...

que os dias de morango estanquem as armas da discórdia. jamais do necessário exercício do contraditório.
Gostei do texto!
há braços!

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado