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27.2.09
Descubra quem é Serena
Carta ao Rei
Fosse eu a filha dos devaneios paternos. Fosse eu as linhas auxiliares do esboço, a tangente ou o cateto oposto. Acontece que não sou o que me pedem para ser. Se sou curva, bradam: seja reta! Fosse eu isso ou aquilo, presa, obstada, corrompida... Certamente seria: uma entre tantas e entre nada. Certamente seria: estuprada.
Ah, a liberdade! Corro as mãos pelos girassóis, nua. Deito-me entre eles, toco-me, invado-me. Sou mulher, sim senhor. Pai diz: “Filha minha não é. Não assim, puta!”. Mãe chora, reza, pranteia largamente com as vizinhas católicas: “Minha filhinha, louca!”.
Ah, mamãe, esse é o termo que me define, e é tão belo. Por que chora? Irrompi os limites da sanidade, pois me disseram - e pude constatar com a frieza do mundo – que sanidade é regra, e a regra deve ser obedecida.
Vontade refreada é assassinato inafiançável segundo a natureza. Perpetua marcas, severas marcas. Ilustro tal tese: “Lá vêm os gregos! Querem criar a sociedade, instruir os bárbaros. Lá vem a metafísico, o justo, o correto”. Filhos de uma rameira fedorenta!
Que sou eu então? Sou eu a bárbara, a não instruída... Sou eu a Liberdade. Fito os vizinhos e exclamo: “Quer me comer hoje? Coma-me, coma-me mucho! Tenha uma noite de sexo com a Liberdade, tenha!”. O sinal da cruz é o que recebo em troca.
Mas a Liberdade não vence. Nunca. A Liberdade é a louca, e a louca precisa ser internada. O internato das regras, dos limites, das leis, das ordens. Estupram-me assim, não me dão o prazer, não me fazem querer gozar. Minha vontade, reprimida. Torno-me menina chorona, tristonha. E assim eles vencem!
Lembre-se, ilustríssimo Rei: já derrotei a dor, a epidemia, os senhores feudais e tudo de mais mesquinho e irritante. Mas não – ainda – a moral.
De sua, eterna e utópica, Liberdade.
(Descubra quem é Serena, não pensei em um prêmio ainda, mas até amanhã penso em alguma coisa)
22 comentários:
Vinícius!
se for o Muryel ou Passos... sei lá, porra... sacanagem.
mas tá muito bom isso.
Tá meio grande para ser do Mura, então vou no Leonardo Quintela.
Cel Bentin!
é o Guerra, só uma pessoa com uma alma linda como
a dele para escrever sobre liberdade, tão bem assim.
O texto é fodaço!!
André Luiz
O texto evoca a liberdade feminina. Bem escrito. Excelente enfim.
Anderson H?
sim, tb voto no Vinicius. ele tem uma alma feminina linda, pelo q eu conheci dele.
Não vale votar em dois!!!kkkkkkk!!!!
Sempre a primeira opinião é a válida!
Mas postarei novamente as regras no próximo convidado!
Vamos lá, estou adorando os palpites!
apostaria no Vini tbm... dessa vez fiquei curiosa mesmo... Oõ
Oi Larissa, eu voto no Perrone!
Minhas outras opções já foram citadas.
Bjo.
Giulliana
Não faço a menor idéia de quem seja, mas está de parabéns! Puzta texto! Pura prosa poética...
Oh, Gil! Pode votar em quem já foi votado...
O que não vale é colocar o nome de dois em um comentário só, para depois dizer: "votei nele também!"
A primeira opção é a válida, mas nada impede de opinar quantas vezes quiser.
Se ninguém acerta, o que não é o caso aqui, sorteio entre todos os comentaristas identificados, pois anônimos não participam.
carta ao rei. geralmente quem manda carta ao rei é algum subversivo. sei que o bobo da corte pode ser um deles, mas parece bem mais provável que seja a mãe de algum prisioneiro. a mãe do jean pierre. uma jacobina da vida.
Pois é.
Aguardo mais votos!
toda liberdade é condicional...se... fosse louca estaria totalmente presa.
Excelente texto. O autor é alguém do BDE? Se não for nem adianta, pq acabei de ganhar um cartão de fidelização.
Glauber doou o prêmio, todas as edições do "O Observador".
Vamos que vamos...
Carlos Cruz!
Agora eu estou achando que é Zulmar.
Pois é Ricardo Passos!
Como Quintela já tem minhas obras combinarei com ele o prêmio!
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