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15.4.09
Lenda das Estrelas
Há muito tempo, muitíssimo tempo, quando ao era ainda nem cabia vez, um certo deus solteiro quis ter filhos e resolveu criar o homem. Imenso filho, pois fora a sua imagem, chamou-lhe Ado. Por ser, desde pequeno, colossalmente grande, passou a tratá-lo, afetuosamente, por Adão.
Pois bem, Adão era criança precoce e vivaz. Aprendera logo a obter favores do pai, juntando mãos e praticando telepatia. O pai atendia.
– Pai, há trezentos anos que sucumbo a esta paz celestial e agora me entedio.
O sábio e grande pai acorria a satisfazer o anseio do filho grande. Lá se ia Adão a brincar com anjos.
Trezentos outros anos se passaram e Adão:
– Pai, os anjos nada mais me acrescentam.
Calou-se, pensativo, o pai. Cinqüenta anos depois, inspirou ao filho:
– Dar-te-ei especial fruto para que compreendas a Natureza. Nele encontrarás Paraíso.
Lá se foi Adão intrigado com a novidade. Não se completariam dois séculos para que o filho grande ao grande pai retornasse:
– Pai, observei minuciosamente a fruta. Apalpeia-a e percebi que possuo tato. Dela emanou adocicado perfume e percebi olfato. O olfato me aguçou apetite, daí a mordi. Ecoou um ruído no interior do palato. Surpreendi-me e soltei um ai. Do ai me ocorreu pai. Então, em bom e alto tom, posso dizer que, de todas as descobertas, a que mais me impressionou foi tudo poder ver, menos a mim mesmo.
Por ser grande e sempre sábio o pai, entendeu, do filho, a vicissitude, e, com branda voz, anunciou:
– Terás uma companheira. E vá.
O grande pai, possuidor de incomensurável sabedoria, adaptou uma célula-tronco a seus propósitos. Lá iria Adão deixar se ver pelos olhos de fascinante criatura.
Certo dia, isto uns cem anos mais tarde, Adão reivindicaria:
– Pai, a instigante companheira que me deste por mulher, ora me aponta virtudes, ora me inflige críticas. Acometem-me terríveis dúvidas. Em seus olhos não mais suporto confiar.
Desconfortável com a aspereza do filho, qual se tornara insaciável na proporção do seu tamanho, trabalhou mil anos o grande pai, na paciência da sua sabedoria, presenteando-o com inusitado artefato. Mal se fora Adão a contemplar seu mimo, volta-se, indignado, ao seu criador:
¬– Pai, ocultaste-me de mim mesmo durante quase dois mil anos. Agora que tudo vejo e tudo sei, também tudo quero poder. Deves-me esta glória!
O sapientíssimo e grande pai projetou-se do trono, centenas de vezes mais rápido do que um raio, tomou o descomunal espelho cristalino que havia construído e arremeteu-o contra as paredes dos céus, espatifando-o em bilhões de pedaços.
Ao filho restaram, tão somente, as sementes de uma apodrecida maçã, que, mesmo desprezadas ao chão, teimaram arborizar. Vez por outra, algum descendente de Ado senta-se por debaixo da fronde de uma delas e, enquanto aguarda os brilhos da noite para cobiçar o Infinito, um fruto maduro lhe cai na cabeça.
Cesária Calamar
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10 comentários:
pouco tem a ver com o título.
se for pra chutar, chuto no Allan. vai doer mas...
Será???
Sei não.. tou aqui quebrando a cabeça. Quem será q escreveria "quando ao era ainda nem cabia vez"?
Um belo Quando, esse.
Larissa, vale autor repetido? O falópios repete autores ou é sempre alguém fresquinho?
Se tiver dica pra Liz também quero! rssssss...
Bem, mesmo sem dica, concordo com ela que o começo já foi genial (quando ao era ainda nem cabia vez!!!).
Já que, chutando, já acertei uma vez, quem sabe de novo?
Klotz
Cristiano Deveras!
Kkkkkkkkkkkkkk
É o Véio China,só ele erra no teclado. Pula letra que é uma beleza, rsrsrs
jarbas de barbas.
Aí!!!
CC acertou!
Bom palpite!
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