Pesquisar este blog

22.4.10

Eros e Tânatos


Eros e Tânatos

Náufrago em mim mesmo, a procuro
Entre suas pernas o afogamento
esvazio aos arremessos
que a vida não se desprega num só rasgo
não se desentranha na descarga
de um único orgasmo
há sempre um último deleite a ser tragado

E ela sabe
Me recebe
Me insere na argúcia estrutural da prosa
na poesia cadenciada dos encaixes
adere dos ímpetos até os ossos
seus feixes tecidos de névoa e mucosa
E eu apenas falo, falo e falo
até desaparecer

É quando ela se constringe
fecha ao meu redor e secreta
o silencio absoluto.
Mas finge
Sei de cor o repertório dos ardis
que enleia o embuste feminino
quando goza menos do que quis

Dissimulada desabrocha devagar
desarvora aflitivos perfumes
entreabre o corolário dos possíveis
e impregnado dos ungüentos do ciúme
sou assaltado novamente
por tudo que ansiava abdicar
Resvalo para fora

Ela não chora
ao afago oferta o calo, nunca o âmago
Cumpre ocultar o desamparo, me visto
guardo o estilete no bolso
retrátil acendo um cigarro, degusto
e ainda tenho o pulso de ostentar a marra
de quem só tirou um sarro

Sem palavra avanço
ela é como as outras
quer tudo, e não me alcanço.


Iriene Borges

Um comentário: