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3.6.10

segundo tempo (que tempo?)



éramos feitos de mistérios. do não ver, que ainda assim sentia. ele me parecia um lobo, que por dentro tinha um tigre, pois me lambia as palavras com a língua felina. todo dia.
pertencíamos a um universo anil fechado, que quando se abriu tingiu o céu de lilás. bem atrás das curvas de um conto ou poema outro, tínhamos eletricidade em alta voltagem...
eu, vontade muita. não fazíamos planos. havia um crescente entusiasmo, que chamávamos de tesão e amor. o que era cansaço e fome, eu via com os meus, nos dele olhos, não mais que tristes.
éramos dois. hoje sei que éramos dois. mas debochávamos sermos três ou quatro, num outro tempo, num outro quarto. ainda somos os mesmos quem sabe, loucos. raros como poucos.
ah, também não tínhamos regras e não sei se me incomodei dissimulações ao telefone, quando não dormimos juntos, por tantas tontas confissões.
sabia minha presença, mais forte que a mentira.
mas eu que nunca fui de arregar para o medo, troquei de cama.
*
segunda pausa.
mudei o foco pelo medo do silêncio.
passei semanas completamente distraída, por lembranças da noite, do corpo, corpo que não se despia por completo. do ser entregue e incompleto. a barba clara, o peito branco e nossos olhos tristes. desertos.
a poesia desnecessária, que me mostrava palavra sujas, um livro emprestado, sem que eu lesse, ofereci por ser bem dado, o cheiro do dedo amarelo de tantos cigarros e oito comprimidos ingeridos que não faziam o menor efeito.
eu, e meus desejos cheios de defeitos.
e eu estava ali.
*
ainda é amor. mesmo que em silêncio.
e o telefone não irá mais tocar, quando o ônibus encostar. respeito tua pressa, como sempre respeitei toda forma arte de loucura.
me afasto desse silêncio, para buscar o ar novamente.
como uma quase afogada, numa banheira vermelha de paixão ilusão.
porque ainda é amor. e existe uma dor. diferente.
porque nunca houve posse. talvez por isso que doa, o poder e não estar.
talvez tenha que matar e enterrar, você sonho meu, e não quero que veja meu desejo seu, enterrado e você se ouvindo do outro lado, sobre o jazigo do meu sonho morrido, matado.
ainda é amor. não hoje sorridente.
ainda é amor.
por mais que a gente não mais se contente. nem ao menos tente.
ainda é amor.
ainda novamente.
e sempre.
*
sempre?
.
(sheyladecastilhoº

4 comentários:

otto M disse...

A crônica de uma decadência que, a meu ver, prova que o amor que temos pelo o outro é apenas nosso.

she ♥ disse...

otto,
eu como autora,
não chamaria de decadente.
descrente, quem sabe.
mas respeito teu olhar.

(sheyladecastilhoº

nina rizzi disse...

uma revista feminina. coisa boa, coisa boa...

Flá Perez (BláBlá) disse...

adorei!
bjbjbj