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27.11.10

Recomeço




Setembro de um ano qualquer
na janela para o poente.

Ele não fez segredo,
não fez sermão, não fez gestos grandes.

A porta abriu devagar
e o mato entrou pelo avesso do tapete,
não há grandes singelezas no mato
como também não há singeleza em aranhas marrons.

Ao contrário do vento há uma torre
e do lado contrário da torre
uma floresta de eucaliptos que gastam muita água.

As flores no batente indicam caminho
as roxas querem dizer que sente saudade
e que já sente muito pela ausência.

O bilhete não é necessário
tal qual não é necessária assinatura.

Para certas coisas, basta o rastro, basta o faro
bastam as pistas.

Para grandes amores
basta apenas um aceno
e tudo que há lá dentro
vai se abrindo em gomos, em gomos, em gomos
até dar semente.

O amor é isso
uma eterna repetição
do primeiro pé de planta inventado em vaso de barro.

Há de ser pérpetua,
mesmo que seja diferente a cor da flor,
a repetição da raiz.


(Jessiely Soares)
 
 
(Imagem: google)

2 comentários:

otto M disse...

Que maravilha de texto, Jessiely. Que citação sobre o amor! Um texto um tanto cinematográfico, pois nos permite vários ângulos de visão. Uma construção ímpar.

Cel Bentin disse...

p.q.p.m.v.

enredo, setembro; vontade, setembro; paisagem, setembro. o calendário todo agradece a temporada cheirosa das tuas palavras. aceno de aplauso e lágrima satisfeita: é o teu particular desdobrando cores no quadro de memórias terceiras. obrigado, mesmo.