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25.3.09

Carlos, Carlota e Catarina

























Papai sempre quis um menino. Minha mãe não se importava nem um pouco com a criança que vinha, e, pra ser sincera, talvez estivesse pensando se engravidar fora a melhor idéia. De qualquer forma, nasci, para descontentamento de papai, Ana Catarina (sugestão de vovó Vicenza que gostava de nomes de rainhas). Papai deu duplo azar quando nasceu Carlota Beatriz e, com medo de levar a cabo um lobisomem na família, parou nela. Fomos criadas com carinho e proteção, um pouco exagerada, devo confessar, e um mundo cor de rosa, embora a mãe sempre dissesse que cor de rosa a deixasse enjoada. Papai nos proibia de brincar com as crianças na rua e na escola, cerceando, em grande parte, nosso contato com meninos. Não fosse pelos avós e a mãe, teria estudado em escola pra meninas ou parado num convento. Mas sempre amamos papai, mesmo através da carranca estampada e do pouco tato com nossos vestidos (-Marina! Cuida dessas meninas! Que vestidos são esses?).
É claro que o proibido levou a mim e à Carlota a buscarmos a descoberta. Carlota já fazia os meninos se perderem aos nove, eu me atrasei um pouco. Quando tive meu primeiro namoradinho a mãe percebeu algo e se colocou a conversar comigo. Disse aquelas coisas de mãe e, o mais importante: Não deixe seu pai saber. Tenho clara consciência de que o medo estivesse em ser culpada, mais do que em nos ver apanhar, ou algo do tipo. Também tenho clara consciência de que foi naquele momento que aprendi o valor da pequena mentira, do dissimular.
Talvez seja por isso que nas pequenas disputas com as amigas, ser chamada de dissimulada não me incomodava em coisa alguma. Carlota e eu ganhamos alguns apelidos feios na adolescência, mas, nada que não aprendemos a contornar. Assim, sempre as duas, não deixamos que nada interferisse em nossa sede pela descoberta.
Quando fiz 17 anos, papai faleceu. Teve um ataque cardíaco em meu aniversário, depois de passar mal. Ele vinha escondendo uma pressão alta desde sempre e nesta ocasião aprendi algo mais sobre esconder. Não me admira que Carlota e eu tenhamos nos casado em busca de tudo, menos de família.
Carlota deu mais sorte, em vários aspectos. Um marido aparentemente fiel, rico e um tanto ingênuo. Tricotávamos nossos casos aos sábados, depois do jantar, quando os homens falavam de “negócios”. Meu primeiro marido era um pouco mais manipulador, razoavelmente infiel, mas não deixava de ser rico. Tinha seus acessos de ciúmes sempre que eu expunha um de seus deslizes e sempre voltava de madrugada, com rosas. Aprendi a detestar rosas.
A mãe, no fim de seus dias, teve tempo de dizer que nos amava e que tinha orgulho de nós. Tínhamos certeza de que era porque não dávamos qualquer trabalho e ainda podíamos deixá-la aproveitar o finzinho da vida com mais dignidade do que papai conseguira.
No dia de sua morte, tanto eu quanto Carlota estávamos a seu lado, na cama. Sua voz era fraca e seus olhos bem distantes, mas teve tempo de nos dar sua última lição, em vida, porque ainda aprenderíamos algumas depois: Não importa o que aconteça, não deixem seu pai saber!
A princípio imaginamos que ela estivesse delirando, que talvez visse papai na beirada da consciência. Tudo se explica, na vida, entretanto. No enterro vimos aparecer a figura ainda forte do primo Carlos (um primo de mamãe que sempre freqüentou nossa casa e a quem chamávamos “irmão”, porque nos parecíamos). Engraçado como a verdade pode ser maquiada; naquele enterro, eu e Carlota juramos, com um olhar, Jamais contar nada a papai.


(Ana Catarina)



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18 comentários:

Anônimo disse...

Véio.

Anônimo disse...

eu ia chutar dos Anjos... mas reli... vi o Véio.

Cesar Veneziani disse...

Não faço a menor idéia! Mas que o texto é danado de bom, isso é mesmo...
Parabéns ao autor(a)!!!

Cesar Veneziani disse...

Reli e resolvi chutar: Cristiano.

Ivan Guardia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ivan Guardia disse...

Ótimo texto deveras.
André Luis? Acho que tô delirando...

Quintela disse...

henrique.

Larissa Marques - LM@rq disse...

muito bom!!
obrigada por participarem!

Ricardo Passos disse...

Acho que é o Cristiano!

Angela Nadjaberg Ceschim Oiticica disse...

Acho que é o Henrique.

Unknown disse...

Henrique, é a cara dele esse texto.

Alana disse...

maravilhoso o texto. Tbm acho q é do Henrique.

liz disse...

hm.... será? tenho motivos bem concretos pra não achar q é do Henrique nem do Cristiano....

André Luiz??? nem me ocorreu! mas poderia ser. Talvez. Não, acho q não....

Fico no Véio, mesmo. Ai q dúvida! CC? Zé?
Fico no Véio.

Larissa Marques - LM@rq disse...

Não tem como fazer votação secreta e ao meu ver o divertimento é ver os pitacos alheios, ou não?

paulinho disse...

Suspeito e afirmo que a identidade secreta pertence ao Anderson H

Larissa Marques - LM@rq disse...

Pois ninguém acertou, o texto é de Vinicius Paioli!
Mais uma vez minha filha é responsável pelo sorteio, ela escolheu Cesar, então passe seu endereço por depoimento para que eu mande o prêmio!

paulinho disse...

Valeu, issomemooooo, rsrsr
E assim vamos continuando com a brincadeira que é muito séria, rsrs
Beijos pra você e pra sua filhinha linda. SMACK!

liz disse...

Vinicius... quem diria!!!