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28.4.10

os arroubos do sim em mim



Colecionava arroubos sem nenhuma paz, mas esse me chegava bem vindo vermelho e contraditoriamente sereno, buscando janelas que não se abriam.
Vivi duas portas numeradas de quatro dígitos, que eu somava compulsivamente e o resultado, era sempre sete. Como eram também sete, as faixas de pedestres, brancas fitas fritadas sob o asfalto quente.Não me recordo de ruídos viadutos, como na primeira vez de pôr do sol e vento, mas sim sussurros de um túnel, que penetrei por pupilas lume negras, dilatadas de pura verdade, por cápsulas brancas riscadas sobre uma capa preta.Poderia ser mais uma, mas o que me valia era ser toda e agora. E era já pra sempre o sim, do que não tem volta.
Contorno de lábios, corações e caquís partidos. Amanhecer em claro, cortinas, correntes, sorrisos dentro, refletores âmbar, flashs, chaves magnetizadas e um pequeno anjo louro, na outra mesa de café amanhecida brega, entre famílias e nisseis de gravata com hálito de manteiga.
Cúmplices de delírios reais.Dois navegantes solitários, pendurandos na parede remam rios e o meu desejo de vôo entre pernas, de coisas que se enrijecem com o roçar lento de línguas, grita.O tempo voou rápido demais, enquanto esperávamos monstros de cinema desocuparem o hall central, então nem tive tempo de perceber o despertar azul e lilás que se faria, se não tivesse lutado contra as minhas pálpebras pesadas, contra os ponteiros do relógio, para que ele se arrastasse pelas horas findas, mas jamais perdidas.E eram digitais, não as horas, mas a marca roxa no pulso, quem sabe feita por impulso. E no meu fundo, a saliência encontrada e tocada, provocante de gemidos ainda ressoa.
Pulsava o pulso e latejava, como ainda ardo, vontades desejadas por tantos dias, que já se faziam alguns meses. E era agora. Já sem tempo definido. E o que se faria definitivo também viria sem peso, sem medida. Definitivo, como tudo que se aposta, tudo que se vive bem e gosta, e que passa a habitar vivo, dentro, intenso.O único receio, era de que o telefonema batesse na porta. Me faria de morta, de abajour, de arrumadeira. Paciente incandescente de fagulhas embebidas em sotaques dois.E o teu rosto na horizontal eu fiz de espelho. No gosto da estrada, encontrei teu fio de cabelo que levei à boca, e novamente pensei: "Tô louca".
E estava, estou. Eu sou.Porque somos essa coisa sem nome, sem pronomes, que fecha os olhos na hora da despedida e que segue nostálgica o pulsar da vida.Hoje, sonhei Copacabana invadida. E seu rosto na multidão domingo de areia e ondas e espumas e pingos de chuva sem abrigo.
Sempre água com você, meus sonhos.
Sempre acordada, sonho teu suor mais uma vez, água.
Eu e todos os meus sins, nos plurais orgásticos e vulcânicos, que habitam onde você mora em mim ...


(sheyladecastilhoº

4 comentários:

Flá Perez (BláBlá) disse...

lindo!

Joana Espain disse...

O texto escorre. Mais ou menos líquido com maior ou menor viscosidade mas escorre por nós. Gostei muito. Somos mesmo 'essa coisa sem nome..que segue um qualquer pulsar'.

Larissa Marques - LM@rq disse...

Sheyla...
Sheyla...
você mora em mim!

sheyla de castilho disse...

obrigada!!!
um poetabeijo gigante na inspiração de vcs!!

(sheyla*