Estranhamento
Olhei com horror a sombra negra que manchava o quase verde, tantas vezes iluminado pela gana de viver. Fitei os longos fios brancos, que se espalhavam rapidamente sob as lembranças, as angústias, e os sonhos empoeirados e perdidos no meio de tanto lixo acumulado.
Tentei em vão arrumá-los, escondê-los, mas destacavam-se sobre o pouco viço que restou de um tempo menos árido.
Vi as águas represadas a duras penas, neste tempo, escorrerem por vincos prematuros e profundos.
E senti estranheza, e solidão.
Já não havia brilho, nem verde, nem viço... apenas o reflexo vazio, de um olhar morto. Decidi sepultar as lembranças e abracei-me com força.
Dos meus braços penderam quilos e quilos de culpa.
Cansada, resolvi comprar um espelho novo.
Monica San
Foto: Graça Loureiro
3 comentários:
Muito bom, já elogiei esse na comuna do orkut!
bjk!
Esse humor que arremata a prosa dá um toque de mestra à reflexão íntima que conduz o anteposto.
show!
Valeu meninas, gardicida.
beijocas!
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